DESPRENDE-TE, CORAÇÃO
.
.
Desprende-te, coração, da árvore do tempo,
soltai-vos, folhas, dos ramos esfriados,
outora abraçados pelo sol,
soltai-vos como lágrimas de olhos largos de longes.
.
Esvoaça ainda a madeixa dias inteiros ao vento
na fronte tisnada do deus do campo,
sob a camisa aperta o punho
já a ferida aberta.
.
por isso resiste, quando o dorso macio das nuvens
voltar a curvar-se para ti,
não te iludas se o Himeto te encher
de novo os favos.
.
De pouco vale ao lavrador uma erva na seca,
de pouco um verão, face à nossa grande estirpe.
.
E que testemunha afinal o teu coração?
Entre ontem e amanhã balança,
silencioso e estranho,
e o seu bater
é já a sua queda para fora do tempo.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário