sábado, 17 de maio de 2008



Canção segunda

Do rio de lisboa
da luz a humidade
o pó a turva e lava
no rio vai de inverno
lisboa o pó lavando

Em rio vai de pó inverno achando
com que mudar as ruas de lisboa
vai passando lisboa na luz turva
de inverno de humidade já lavada
de novo a luz do rio a vai turvando
de novo acha o inverno a humidade
e novamente o pó com que lavá-Ia

Vai mudando o inverno o pó das ruas
de turva areia ardente em puro pranto
o rio de lisboa do inverno
da amargura o rouco pó lavando

De areia de tristeza a humidade
erva das praias rio
vai mudado o inverno
vai do rio
correndo de lisboa turva ainda
acaso a água dos clarões do pó
clarões canção
do pó
que a luz arrasta



Canção sexta

Tanto o pó de outro dia destruíra
o último sossego novamente
este cheiro de vida embora andasse
a tarde sobre tudo sem sossego
engano
escasso vento
o pó levando ainda de outro dia

Do abrigo do dia novamente
lançados sobre a áspera cratera
dos enganos lavrada do sossego
no uso dos enganos tão ciente
ar doce do amor que leva o pó
do abrigo do dia sobre tudo
frágil disperso fora com o vento
lançados do engano do sossego

Somente já de vida mantivera
não da gruta da tarde as vãs lembranças
o pó do dia
as nuvens os enganos
desabridos da tarde enfim de vida
as crateras apenas despejadas
assim o pó ardia novamente
surdo cansado espesso pó da terra

Não trazia lembranças
sem sossego abrigava de outro dia
da tarde sossegada a escassa vida
De destroços canção somente a vida
não reduz do sossego destruído
de outro dia a lembrança ao pó que a traz


Canção sétima

As claridades mansas das areias
na sombra do obscuro do calor
abismo da extensa

nudez da luz em terra de firmeza

contente magoada
árvores ervas claridades danos
ligeiras claridades das areias
a que na sombra da nudez do corpo
de luz um fogo seco
novo choro procura e novo dano

As claridades não se encontra dano
que no áspero choro a luz não fira
nem as extensas arcadas fracas
claridades do mar
nem as escuras praias enganadas


A mansidão das praias os abismos
do fogo serenados
enfraquecidas luzes e obscuras
e nuas claridades
vivemos na tristeza sossegados
mas se o escuro
agita contra nós tranquilo e falso

o lume vão das dunas o da terra
árido ardente pó acumulado
é o calor da mágoa que a inerte
acumulada vida obscura rasga

As claridades brandas não enganam

do sangue o pó a morte a estranheza
confusa troca da extensão da praia
da luz fraca da tarde
só dos banhos se mudam verdadeiros
dia a dia do fogo os mesmos danos
e se renova o pranto de firmeza
descontente magoado da nudez


De claridades vive em terra estranha
a extensa cinza fraca luz das praias
de firmeza canção rasgando o fogo
magoado contente da nudez



Gastão Cruz

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