Cão que matinalmente farejavas a calçada as ervas os calhaus os seixos os paralelipípedos os restos de comida os restos de manhã a chuva antes caída e convertida numa como que auréola da terra cão que isso farejas cão que nada disso já farejas Foi um segundo súbito e ficaste ensanduichado esborrachado comprimido e reduzido debaixo do rodado imperturbável do pesado camião Que tinhas que não tens diz-mo ou ladra-mo ou utiliza então qualquer moderno meio de comunicação diz-me lá cão que faísca fugiu do teu olhar que falta nesse corpo afinal o mesmo corpo só que embalado ou liofilizado? Eras vivo e morreste nada mais teus donos se é que os tinhas sempre que de ti falavam falavam no presente falam no passado agora Mudou alguma coisa de um momento para o outro coisa sem importância de maior para quem passa indiferente até ao halo da manhã de pensamento posto em coisas práticas em coisas próximas Cão que morreste tão caninamente cão que morreste e me fazes pensar parar até que o polícia me diz que siga em frente Que se passou então? Um simples cão que era e já não é Ruy Belo
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Requiem por um cão
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