terça-feira, 17 de março de 2009

Spleen Quando o cinzento céu, como pesada tampa, Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta, E a sua fria cor sobre a terra se estampa, O dia transformado em noite pardacenta; Quando se muda a terra em húmida enxovia D'onde a Esperança, qual morcego espavorido, Foge, roçando ao muro a sua asa sombria, Com a cabeça a dar no tecto apodrecido; Quando a chuva, caindo a cântaros, parece D'uma prisão enorme os sinistros varões, E em nossa mente em febre a aranha fia e tece, Com paciente labor, fantásticas visões, - Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes, Lançando para os céus um brado furibundo, Como os doridos ais de espíritos errantes Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo; Soturnos funerais deslizam tristemente Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança, Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente, Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança! Charles Baudelaire

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