segunda-feira, 21 de maio de 2007



Ars Magna

Devo ter corredores por onde ninguém passedevo ter um mar próprio e
olhos cintilantes
devo saber de cor o cetro e a espada
devo estar sempre pronto para ser rei e lutar
devo ter descobertas privativas implicando viagens ao grande imprevisto
de um pássaro as ossadas de uma ilha a floresta do teu peito o animal que
inanimado canta
devo ser Júlio César e Cleópatra a força do Dniepper e o carmim dos olhos
de El-Rei D.Dinis
devo separar bem a alegria das lágrimas
fazer desaparecer e fazer que apareça
dia sim dia não
dia sim dia não
devo ter no meu quarto espelhos mais perfeitos técnicas mais sérias prestígios
maiores
devo saber que és forte amplo transparente e colher-te murmúrio flébil aero-
lado
que eu arranco da luz que encharca o mundo
dia sim dia não dia sim dia não
devo portar-me bem à saída do teatro
devo tirar as chaves do universo
num passo ágil belo natural
e indiferente ao triunfo aos castigos aos medos
fitar unicamente, sob as luzes da cúpula, o voo tutelar da invisível armada.
Mário Cesariny in Manual de Prestigitação

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