Um lado do teu rosto
era sempre o estio.
Ondas, mansamente,
a boca, o mormaço.
Eu era um pássaro espiando
a luz e o grão. Sem pressa,
pousava: teus cabelos,
a restinga, a chuva da tarde.
Mas tua outra face não esperava
e nela estranhos bichos
subiam do mar fundo
à terra. Se tocados,
um líquido,
mijo ou lágrima,
queimava, repelia,
insultava.
Tudo em mim, então, era uma concha
que se fechou de susto
e os penhascos doíam
sem nenhum remédio.
Era quando, durante toda a noite,
eu queria apenas morrer.
E morria. Mais de uma vez,
fui um homem que se afogou na barra.
Eucanaã Ferraz
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