O poeta chorava o poeta buscava-se todo o poeta andava de pensão em pensão comia mal tinha diarreias extenuantes nelas buscava Uma estrela talvez a salvação? O poeta era sinceríssimo honesto total raras vezes tomava o eléctrico em podendo voltava não podendo ver-se-ia tudo mais ou menos a cair de vergonha mais ou menos como os ladrões E agora o poeta começou por rir rir de vós ó manutensores da afanosa ordem capitalista comprou jornais foi para casa leu tudo quando chegou à página dos anúncios o poeta teve um vómito que lhe estragou as únicas que ainda tinha e pôs-se a rir do logro é um tanto sinistro mas é inevitável é um bem é uma dádiva Tirai-lhe agora os poemas que ele próprio despreza negai-lhe o amor que ele mesmo abandona caçai-o entre a multidão crucificai-o de novo mas com mais requinte. Subsistirá. É pior do que isso. Prendei-o. Viverá de tal forma que as próprias grades farão causa com ele. E matá-lo não é solução. O poeta O Poeta O POETA DESTROI-VOS Mário Cesariny
quarta-feira, 30 de julho de 2008
O POETA CHORAVA...
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