segunda-feira, 29 de outubro de 2007
'LUNÁRIO'
[...]
... Escondia-me nas árvores e esperava que amanhecesse. O surdo voo das aves noctívagas atordoava-me, roçava-me na pele, e eu caía num torpor que só com o despontar da alba se desvanecia...
... Depois vieram as cidades, cada vez mais perto umas das outras, e cada vez mais sujas e habitadas, e de novo as auto-estradas que parecem não levar a parte nenhuma, intermináveis e negras... e pensei como era ardente a solidão do fugitivo que está condenado a sobreviver encarcerado no seu próprio corpo...
... Acaba por inventar países, e nenhum deles é o seu. O fugitivo lembra-me muitas vezes aquele homem que em todos os lugares onde vive planta árvores, e de todas as vezes que abandona um desses lugares quer levá-las consigo... mas vem o momento em que um dedo invisível se pousa nas veias do pulso, e a alma treme sobre o rosto ensanguentado. E na janela dum quarto qualquer, alugado ao mês, surge um bosque de poalha luminosa e de vazio. E nela se debruça incendiando a sua própria infância...
[...]
Al Berto
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