quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Tenho dó das estrelas
Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.
Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas ,
Como das pernas ou de um braço?
Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...
Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão –
Qualquer coisa assim
Como um perdão?
Fernando Pessoa
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Coraçam já repousavasCoraçam já repousavas,
Já não tinhas sujeiçam,
Já vivias, já folgavas;
Pois porque te sojigavas
Outra vez, meu coraçam?
Sofre, pois te não sofreste
Na vida que já vivias;
Sofre, pois te tu perdeste,
Sofre, pois não conheceste
Como te outra vez perdias;
Sofre, pois já livre estavas
E quiseste sujeiçam;
Sofre, pois te não lembravas
Das dores de que escapavas:
Sofre, sofre, coraçam!
Jorge de Aguiar Cancioneiro Geral (séc. XV)segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
Junto a um muro velhoJunto a um muro velho
A uma casa ruída
A velha amendoeira diz que não
À morte
E fica
De repente
Menina e noiva
Ao mesmo tempo.
O vento ri-se dela
Arranca-lhe as pétalas
- Mas são tantas que não se nota -
Escarnece-a:
- "És uma velha louca de véu e grinalda!"-
Para enxotar os insultos machistas do velho
Vento
Acudo-lhe com estes versos:
- "Não ligues! É inveja!
Estás tão linda assim de noiva, avozinha!"
sábado, 27 de dezembro de 2008
Não me peças mais canções Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.
Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse!
Mas sóbria por natureza
Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo...
- Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.























































