quarta-feira, 31 de outubro de 2007


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A CHUVA é triste porque nos faz lembrar quando éramos peixes.
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A árvore procura um coração debaixo da terra com as mãos crispadas das suas raízes.
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A única pessoa que muda de verdade a face do planeta é aquele que lava modestamente o seu terreno.
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Ramon Gómez De La Serna

James Ensor

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

ENCANTATÓRIA
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Custa é saber
como se invoca o ser
que assiste à escrita,
como se afina a má-
quina que a dita,
como no cárcere
nu se evita,
emparedado, a lá-
grima soltar.
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Custa é saber
como se emenda morte,
ou se a desvia,
como a tecla certa arreda
do branco suporte
a porcaria.
Luiza Neto Jorge

'LUNÁRIO'

[...] ... Escondia-me nas árvores e esperava que amanhecesse. O surdo voo das aves noctívagas atordoava-me, roçava-me na pele, e eu caía num torpor que só com o despontar da alba se desvanecia... ... Depois vieram as cidades, cada vez mais perto umas das outras, e cada vez mais sujas e habitadas, e de novo as auto-estradas que parecem não levar a parte nenhuma, intermináveis e negras... e pensei como era ardente a solidão do fugitivo que está condenado a sobreviver encarcerado no seu próprio corpo... ... Acaba por inventar países, e nenhum deles é o seu. O fugitivo lembra-me muitas vezes aquele homem que em todos os lugares onde vive planta árvores, e de todas as vezes que abandona um desses lugares quer levá-las consigo... mas vem o momento em que um dedo invisível se pousa nas veias do pulso, e a alma treme sobre o rosto ensanguentado. E na janela dum quarto qualquer, alugado ao mês, surge um bosque de poalha luminosa e de vazio. E nela se debruça incendiando a sua própria infância... [...] Al Berto

Frank Auerbach

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A EDUCAÇÃO DOS FILHOS
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Devem criar-se com displicência os filhos,
o descuido de os ter já em si chega.
é reprovável adoçá-lo com hipocrisia.
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Oferecer-lhes jogos, alguma paciência
e participar pouco - que o abandono deles
nos redima de toda a imprevidência.
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A vida que não lhes rime assim tão consoante,
como se não tivessem que trepar árvores
e cortar os joelhos ao cair da bicicleta.
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Nunca ensinar nada - o que não sabem
terão sempre que aprender da pior maneira.
Recordar-lhes apenas a confiança no que praticam:
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escreverem nos livros de que gostam,
não lerem os que aborreçam; descer
do grave, que será frágil o que perdura.
José Alberto Oliveira

'A Europeia'

'Meninas'

À Princesa Alice
Lushington Road,n.º7, Eastbourne (15 de Agosto de 1892)
Minha querida Alice .
Será uma sorte que esta nota chegue junto de si antes de a Menina me esquecer por completo. Alguém me perguntou se poderiam copiar alguns dos desenhos da Alice naquilo que chamam «Latinhas para Crianças». Já alguma vez ouviu falar dessas coisas? Eu não, pelo menos até agora. Dizem que as crianças costumam guardar lá dentro bolinhos, ou doces, ou coisas assim. Mas eu acho que a Menina vai descobrir mais utilidade naquela que lhe envio. sempre que o Charlie se portar mal, pode enfiá-lo lá dentro e pôr a tampa! Verá que depois ele se porta bem. envio-lhe também uma para ele: assim já sabe aquilo que lhe acontece quando se portar mal! Escrevi os vossos nomes nas caixas para saberem qual a que pertence a cada um de vós. as minhas desculpas pela minha letra: não é nada fácil escrever na lata, sabe. Com a minha amizade - que a menina tem de partilhar com o seu Irmão: aconselho-a a dar dois terços a ele, e a guardar três quartos para si.
Afectuosamente C.L.Dodgson

Keith Haring



quarta-feira, 24 de outubro de 2007

BEBENDO O VINHO
O Número Sete
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Crisântemos no Outono, a mais bela cor.
Com orvalho ainda - os colho, e faço-os
Flutuar neste que afoga cuidados:
- Põe-me bem longe do mundo.
Encho, sozinho, um copo de vinho,
Se fica vazio, deita por ele o jarro.
Põe-se o sol, tudo o que é vivo sossega,
Aves de volta entram no bosque cantando.
Assobio na varanda do leste, alegremente;
Encontrei de novo o sentido à vida.
Tao Yuanming

'Uma menina de sete gatos ou o saldo de Euler'

O Nariz Filosófico Em casa do sapateiro Matias ouvia-se um grande alarido; tinham fugido os periquitos da gaiola - sete ao todo, um de cada cor, primorosos cantores e acrobatas - e a mãe levantava os braços aos céus e quando desciam dos céus, com precisão de sovelas, esbofeteavam cinco carinhas ranhosas, com ar culpado, embora não tivessem culpa nenhuma, e além disso soltar pássaros das gaiolas agrada aos deuses. Não pensava assim a srª Esmeralda Pereira, e estava convencida que os periquitos davam sorte, e com eles idos, ida estava a sorte.
Miguel de Castro Henriques

Fritz Wotruba






terça-feira, 23 de outubro de 2007

INSCRIÇÃO PARA A CABANA DO EREMITA DE TSUEI
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O Caminho dos simples coberto de musgo vermelho
A janela na montanha abrindo para o azul
Invejo-te o vinho que bebes entre as flores
e todas essas borboletas que voam nos teus sonhos.
TSIEU KI ( China, século VIII D.C.)

'Silêncio para 4'

[...] - Difícil definir pessoas que têm mistério, fogem ao catálogo saltam para fora dos dicionários, estão sempre a fugir, quando se toma mais atenção, já se evadiram, precisam de uma vigilância permanente, e mesmo assim escapam, são ladrões da mais espantosa profissão humana, a arte de evadir personalidade. - É uma mulher que talvez não seja bom conhecer muito. - Essa é a melhor definição. Queimam, há pessoas que queimam, queimam e ficam de fora a ver o fogo, a ver o holocausto, queimam a personalidade e exaltam a imaginação. [...] Ruben A.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007


CUIDADOS INTENSIVOS
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Como se flores me saíssem das veias:
um molho de amarílis em chamas. Ligado a tubos-
um comprimido para o medo debaixo da língua-sonho com uma dor
vermelha: (flor saindo de mim como uma bela ferida;
mulher de uma brancura lunar de carnes, de lingerie negra
e cabedal de verniz, ajoelha à minha frente e morde) uma afrodisíaco
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A minha máscara de oxigénio e a sua cor de carne macerada.
Sons de coisa a bombear. No meu cérebro, música soltando
a tampa ao boião do sono. Sorvos:
o sangue sabe a doce e ri como prometido,
o andar das coisas anda.
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Dêem-me massagem tailandesa, demão grega e blow job.
(Que sobra de mim? Um livrinho a negro
e amor amor amor
do ghettoblaster do meu coração.)
Dêem-me a definição da morte.
Peter Verhelst

'A VOZ HUMANA'

[...] Obrigado, menina, (Desliga. O telefone toca). Está? É do 0497? Oito sete, não; nove sete. Oh! (Toca) Está lá? Enganou-se, menina. Deu-me o 0487 e eu queria o 0497. Sim, Auteuil 0497. (Espera de auscultador na mão) Está lá? é do 0497? Ah! sim. É você,José. Daqui fala a senhora. Cortaram-me a ligação................................... O senhor está em casa?!...............................................sim............................................ Jean Cocteau

Ray Johnson

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a acção humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias.
Alberto Caeiro

'O Inominável'

[...]BONS MODOS, entusiasmo, desembaraço, fé, como se fosse a minha voz, dizendo palavras minhas, palavras que dizem que estou vivo, porque é assim que eles querem que eu esteja, não sei porquê, com os seus biliões de vivos, os seus triliões de morte, mas não lhes basta, também tenho de participar, com a minha convulsãozinha, vagir, chorar, troçar e estortorar, no amor do próximo e nos benefícios da razão. Pois é, mas eu não sei o que são bons modos.[...] Samuel Beckett

Lucio Fontana


quinta-feira, 18 de outubro de 2007


A GIGANTE
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No tempo em que a Natura, com o seu poder,
Dava à luz cada dia filhos monstruosos,
Com uma jovem gigante quisera eu viver,
Como aos pés de rainha um gato voluptuoso.
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Quisera ver-lhe o corpo, com a alma aflorir
E liberto crescer nos terríveis jogos;
Ver se o seu peito choca uma chama sombria
Pronta a enevoar-lhe as meninas dos olhos;
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Percorrer-lhe à vontade as magníficas formas;
Rastejar pla encosta dos joelhos enormes
E por vezes, no Verão, quando o mais quente sol
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A deixasse estendida no campo, tranquila,
Adormecer dolente à sombra do seu colo,
Como ao sopé de um monte uma pequena vila.
Charles Baudelaire

' O Livro do Desassossego'

A VIAGEM NA CABEÇA Do meu quarto andar sobre o infinito, no plausível íntimo da tarde que acontece, à janela para o começo das estrelas, meus sonhos vão por acordo de ritmo com a distância exposta para as viagens aos países incógnitos, ou somente impossíveis. Bernardo Soares

Gato sentado - Saqqara, Egipto (600 a.C.)

Francisco Goya

quarta-feira, 17 de outubro de 2007


OFÍCIO DE AMAR
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já não necessito de ti
tenho a companhia nocturna dos animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e o
remorso
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um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços nómadas
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ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo

AL Berto

'Nome de Guerra'

O TRAMPOLIM DO SALTO MORTAL PARA A SEGUNDA NATUREZA O pensamento humano e a humanidade não são uma e a mesma coisa. O pensamento humano leva sempre uma incomensurável dianteira à marcha geral da humanidade. O que o pensamento humano quer imediatamente são exemplos pessoais. A humanidade é apenas um elemento, como a terra, a água, o ar e o fogo. Há de facto diferença entre aqueles que têm capacidade para suportar sozinhos o peso da atmosfera e aqueles que apenas ombro a ombro resistiriam ao quotidiano. O pensamento humano sabe que tem o poder de restituir a alma aos apavorados. José de Almada Negreiros

Poema em Papiro - Memphis, Egipto (19ª Dinastia)

Helen Frankenthaler






terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Rosa
está a morrer os
lábios de um homem velho assassinam
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as pétalas
silenciosos
misteriosamente
invisíveis pranteadores movem-se
com prosaicos rostos e soluçantes, trajes
O símbolo da rosa
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imóvel
com dolorosos pés e
asas
eleva-se
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contra as margens do escarpado verso
uma doçura animal, os
lábios de um homem velho assassinam
.
as pétalas.
E.E. Cummings

The Strangford Apollo - The British Museum

'Ir à Índia Sem Abandonar Portugal'

[...]O QUE SE DEVE é chegar a outra coisa muito importante: à liberdade cultural de cada homem! Já não se trata de esta região ou aquela ser desta ou daquela maneira: trata-se de ser à sua maneira cada pessoa! Temos de levar o mundo a um tal tipo de organização que permita a identidade cultural de cada homem, sem sofrer nenhuma espécie de atrpelo. A liberdade cultural do Minho, ou da Catalunha, ou da Andaluzia, ou de qualquer coisa dessas, é apenas um degrau para passarmos ao último andar da casa, que é cada homem ter a sua plena liberdade cultural! Como se costuma dizer, fazer aquilo que lhe der na cabeça, ou no coração, ou nos pés, se preferir andar. Rumar exactamente como quizer rumar; e o mundo estar organizado de tal maneira que daí não resulte o caos, mas uma nova espécie de cosmos, isto é, uma espécie de nova ordem.[...] Agostinho da Silva

Marcel Duchamp

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

MENTIRAS EM TEMPO DE GROSELHAS
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Que construção é mais sólida, se aguentou
mais tempo. E quanto mais aí moram, menos se
a consegue abandonar. Para onde. Anseia-se
por uma casa de Verão sem um fogão e sem
história. Estou aqui porque estou aqui.
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Esta noite estive acordada, fazia vento, chuvas
fustigavam o castanheiro, enquanto já vinha o dia,
a noite não tinha trazido paz. Eu sabia
como eram as coisas, fui dormir e acordei
numa manhã de silêncio, lívida de tristeza.
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Não se pode continuar com lamúrias. as ameixas
baqueiam podres das árvores, no frio
quintal as cores envelhecem velozes. Experi-
mentar tudo sem anestesia, pôr a postos as panelas e
o açucar, gerir os arquivos, guardar os cacos.
Anna Enquist

'Heróstrato e a Busca da Imortalidade'

51. Pode não ser inteligente, mas tem de ser intelectual. A arte é a intelectualização da sensação através da expressão. A intelectualização é dada na, pela e mediante a própria expressão. É por isso que os grandes artistas-mesmo os grandes artistas da literatura, a mais intelectual das artes-são tão frequentemente pessoas sem inteligência. Fernando Pessoa

Basquiat




sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Há algo mais tranquilo do que o sono
Dentro deste quarto interior!
Usa no peito um ramo-
E não dirá o seu nome.
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Alguns tocam-lhe, outros beijam-na-
Alguns afagam a sua mão impassível-
Possui uma gravidade simples
Para mim incompreensível!
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Não choraria, se estivesse no seu lugar-
Que indelicado o soluçar!
Pode afungentar a tranquila fada
E fazê-la regressar!
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Enquanto os vizinhos de coração simples
Do «Morto Recente» falam-
Nós- propensos à perifrase,
Notamos que os Pássaros se elevaram!

Emily Dickinson

'O FAZER DA POESIA'

[...] Existe a vida interior, o mundo da realidade final, o mundo da memória das emoções, da imaginação, da intelegência, e um espécie de senso comum natural, que é regular e constante, subconcientemente ou inconscientemente, como o bater do coração. Mas há também o processo do pensamento, através do qual penetramos na vida interior para procurara respostas e provas que sustentem as outras respostas que estão fora dela. É um processo feito de incursões e persuasões, emboscadas, armadilhas e rendições, e é esse o tipo de pensamento que é necessário aprender; se nada soubermos aprender, as nossas mentes permanecerão em nós como peixes nas águas de alguém que não sabe pescar.
[...]
O Fazer da Poesia (Poetry in the making)

Gustave Courbet

quinta-feira, 11 de outubro de 2007


O recorte de um cão, na areia, ao luar.
Seu passo imprime
O cuidado miúdo e honesto de passar.
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Mas que tristeza oprime
Tanto cão que vai uivar a tanta eira?
Que longo e liso, o fio da noite!
-E amar, esperar desta maneira!
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Numa cidade deserta
(Tavez outra, ou Nínive)
Encontrei um anel, uma oferta,
Da vértebra de um cão,
Para uma mulher que já não vive.
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Mas tudo isso foi vão,
E até nem sei se esse osso tive.

El Greco

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

CONJUGAÇÃO
A construção dos poemas é uma vela aberta ao meio
e coberta de bolor
é a suspensão momentânea dum arrepio num dente
fino
Como Uma Agulha
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A construção dos poemas
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A CONS
TRU
ÇÃO DOS
POEMAS
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é como matar muitas pulgas com unhas de oiro azul
é como amar formigas brancas obsessivamente junto
ao peito
olhar uma paisagem em frente e ver um abismo
ver o abismo e sentir uma pedrada nas costas
sentir a pedrada nas costas e imaginar-se sem pensar de repente
NUM TÚMULO EXAUSTIVO.

Alexander Calder

terça-feira, 9 de outubro de 2007


GASTO-ME À espera da noite
impraticável
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fiel
sugo os lábios da noite
.
Gasto-me á espera da noite alheia
amassada de gargalhadas doces e areia
.
Amor anoitecido vem
tecer-me um vestido
nocturno
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Atraiçoo os anúncios luminosos
até a lua nova sabe a ausente
- e eu nanvalhei-te com naifas de ansiedade -
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Estou à espera da noite contigo
venham as pontes ruindo sobre os barcos
venham em rodas de sol
os montes os túneis e deus
.
Estou à espera da noite contigo
livre de amor e ódio
livre
sem o cordão umbilical da morte
livre da morte
.
estou
à espera
da noite

Albrecht Dürer



segunda-feira, 8 de outubro de 2007



Beira-Mar

Sou moradora das areias,
de altas espumas: os navios
passam pelas minhas janelas
como o sangue nas minhas veias,
como os peixinhos nos rios...
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Não têm velas e têm velas;
e o mar tem e não tem sereias;
e eu navego e estou parada,
vejo mundos e estou cega,
porque isto é mal de família,
ser de areia, de água, de ilha...
E até sem barco navega
quem para o mar foi fadada.
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Deus te proteja, Cecília,
que tudo é mar- e mais nada.

Balthus

sábado, 6 de outubro de 2007



[...]

Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas nas vidraças;
Haverá um tempo, tempo
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar chá e a torrada.
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Passeiam damas na sala para além e para aqui
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Haverá por certo um tempos
De pensar se corro tal risco. «Corro tal risco?»
Tempo de virar costas e descer as escadas
Com esta clareira calva no meio do cabelo-
(Hão-de dizer:«Este já tem pouco cabelo!»)
Com a cassaca, colarinho hirto subido até ao queixo,
Gravata distinta e discreta mas ornada de um sóbrio alfinete-
(Hão-de dizer:«Que magro está, nos braços e nas pernas!»)
Vou correr o risco
De perturbar o universo?
Num só minuto há tempo
Para decisões e revisões, a revogar noutro minuto
[...]

Tamara de Lempicka



sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Paul Klee







De AMOR sou quase de um voo levantado

aonde não foi nem o pensamento;

mas toda esta grandeza de contento

turba-me, e entristece este cuidado,

que temo que ele venha derrubado

ao solo por faltar-lhe fundamento;

pois quem depressa sobe a alto assento

costuma desfal'cer por apressado.

Mas logo é meu consolo e protector

o ver que sou, senhora ilustre, obra

de vossa graça, em que irei confiar;

pra que me conserveis vosso favor,

suprirá minhas faltas vossa sobra,

o vosso bem o meu fará durar.

Frei Luis de Leóns