domingo, 24 de maio de 2009

Monstro...

Louis Vuitton gigantes?

À Espera do Amado Disse-me baixinho: — Meu amor, olha-me nos olhos. Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe: — Vai-te embora. Mas ele não foi. Chegou ao pé de mim e agarrou-me as mãos... Eu disse-lhe: — Deixa-me. Mas ele não deixou. Encostou a cara ao meu ouvido. Afastei-me um pouco, fiquei a olhá-lo e disse-lhe: — Não tens vergonha? Nem se moveu. Os seus lábios roçaram a minha face. Estremeci e disse-lhe: — Como te atreves? Mas ele não se envergonhou. Prendeu-me uma flor no cabelo. Eu disse-lhe: — É inútil. Mas ele não fez caso. Tirou-me a grinalda do pescoço e abalou. Continuo a chorar, e pergunto ao meu coração: Porque é que ele não volta? Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" Tradução de Manuel Simões

sábado, 23 de maio de 2009

Ilusões...

As Coisas Transitórias Irmão, nada é eterno, nada sobrevive. Recorda isto, e alegra-te. A nossa vida não é só a carga dos anos. A nossa vereda não é só o caminho interminável. Nenhum poeta tem o dever de cantar a antiga canção. A flor murcha e morre; mas aquele que a leva não deve chorá-la sempre... Irmão, recorda isto, e alegra-te. Chegará um silêncio absoluto, e, então, a música será perfeita. A vida inclinar-se-á ao poente para afogar-se em sombras doiradas. O amor há-de ser chamado do seu jogo para beber o sofrimento e subir ao céu das lágrimas ... Irmão, recorda isto, e alegra-te. Apanhemos, no ar, as nossas flores, não no-las arrebate o vento que passa. Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos roubando beijos que murchariam se os esquecêssemos. É ânsia a nossa vida e força o nosso desejo, porque o tempo toca a finados. Irmão, recorda isto, e alegra-te. Não podemos, num momento, abraçar as coisas, parti-las e atirá-las ao chão. Passam rápidas as horas, com os sonhos debaixo do manto. A vida, infindável para o trabalho e para o fastio, dá-nos apenas um dia para o amor. Irmão, recorda isto, e alegra-te. Sabe-nos bem a beleza porque a sua dança volúvel é o ritmo das nossas vidas. Gostamos da sabedoria porque não temos sempre de a acabar. No eterno tudo está feito e concluído, mas as flores da ilusão terrena são eternamente frescas, por causa da morte. Irmão, recorda isto, e alegra-te. Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" Tradução de Manuel Simões

sexta-feira, 22 de maio de 2009

GeekAlerts

Louis Vuitton antigo?

Dia da Espiga

Paixão Secreta Acordei com os primeiros pássaros, já minha lâmpada morria. Fui até à janela aberta e sentei-me, com uma grinalda fresca nos cabelos desatados... Ele vinha pelo caminho na névoa cor de rosa da manhã. Trazia ao pescoço uma cadeia de pérolas e o sol batia-lhe na fronte. Parou à minha porta e disse-me ansioso: — Onde está ela? Tive vergonha de lhe dizer: — Sou eu, belo caminhante, sou eu. Anoitecia e ainda não tinham acendido as luzes. Eu atava o cabelo, desconsolada. Ele chegava no seu carro todo vermelho, aceso pelo sol poente. Trazia o fato cheio de poeira. Fervia a espuma na boca anelante dos seus cavalos... Desceu à minha porta e disse-me com voz cansada: — Onde está ela? Tive vergonha de lhe dizer: — Sou eu, fatigado caminhante, sou eu. Noite de Abril. A lâmpada arde neste meu quarto que a brisa do Sul enche suavemente. O papagaio palrador dorme na sua gaiola. O meu vestido é azul como o pescoço dum pavão, e o manto verde como a erva nova. Sentada no chão, perto da janela, olho a rua deserta ... Passa a noite escura e não me canso de cantar: — Sou eu, caminhante sem esperança, sou eu. Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" Tradução de Manuel Simões

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Skate Louis Vuitton

Mito Virá o dia em que o jovem deus será um homem, sem sofrimento, com o morto sorriso do homem que compreendeu. Também o sol se move longínquo avermelhando as praias. Virá o dia em que o deus já não saberá onde eram as praias de outrora. Acorda-se uma manhã em que o Verão morreu, e nos olhos tumultuam ainda esplendores como ontem e no ouvido os fragores do sol feito sangue. A cor do mundo mudou. A montanha já não toca o céu; as nuvens já não se amontoam como frutos; na água já não transparece um seixo. O corpo dum homem curva-se pensativo onde um deus respirava. O grande sol acabou, e o cheiro da terra e a rua livre, colorida de gente que ignorava a morte. Não se morre de Verão. Se alguém desaparecia, havia o jovem deus que vivia por todos e ignorava a morte. Nele a tristeza era uma sombra de nuvens. O seu passo pasmava a terra. Agora pesa o cansaço sobre todos os membros do homem, sem sofrimento: o calmo cansaço da madrugada que abre um dia de chuva. As praias sombreadas não conhecem o jovem a quem outrora bastava que as olhasse. Nem o mar do ar revive na respiração. Cerram-se os lábios do homem resignados, para sorrir frente à terra. Cesare Pavese, in 'Trabalhar Cansa' Tradução de Carlos Leite

terça-feira, 19 de maio de 2009

Hello Kitty: everything!!... Vestidos de noiva

Chuva

soneto do amor e da morte quando eu morrer murmura esta canção que escrevo para ti. quando eu morrer fica junto de mim, não queiras ver as aves pardas do anoitecer a revoar na minha solidão. quando eu morrer segura a minha mão, põe os olhos nos meus se puder ser, se inda neles a luz esmorecer, e diz do nosso amor como se não tivesse de acabar, sempre a doer, sempre a doer de tanta perfeição que ao deixar de bater-me o coração fique por nós o teu inda a bater, quando eu morrer segura a minha mão. Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Porquinho (!?) Louis Vuitton

2.º ANIVERSÁRIO!!!!!!!

O Suicida Não restará na noite uma só estrela. Não restará a noite. Morrerei e comigo irá a soma Do intolerável universo. Apagarei medalhas e pirâmides, Os continentes e os rostos. Apagarei a acumulação do passado. Farei da história pó, do pó o pó. Estou a olhar o último poente. Oiço o último pássaro. Lego o nada a ninguém. Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"