sexta-feira, 15 de maio de 2009

Infância Passa lento o tempo da escola e a sua angústia com esperas, com infinitas e monótonas matérias. Oh solidão, oh perda de tempo tão pesada... E então, à saída, as ruas cintilam e ressoam e nas praças as fontes jorram, e nos jardins é tão vasto o mundo —. E atravessar tudo isto em calções, diferente de como os outros vão e foram —: Oh tempo estranho, oh perda de tempo, oh solidão. E olhar tudo isto à distância: homens e mulheres; homens, homens, mulheres e crianças, tão diferentes e coloridas —; e então uma casa, e de vez em quando um cão e o medo surdo trocando-se pela confiança: Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo, Oh infindável abismo. E então jogar: à bola e ao arco, num jardim que manso se desvanece e por vezes tropeçar nos crescidos, cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar, mas ao entardecer, com pequenos passos tímidos, voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —: Oh compreensão cada vez mais fugaz, Oh angústia, oh fardo! E longas horas, junto ao grande tanque cinzento, ajoelhar-se com um barquinho à vela; esquecê-lo, porque com iguais e mais lindas velas outros ainda percorrem os círculos, e ter de pensar no pequeno rosto pálido que no tanque parecia afogar-se — : oh infância, oh fugazes semelhanças. Para onde? Para onde? Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens" Tradução de Maria João Costa Pereira

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