domingo, 24 de maio de 2009

À Espera do Amado Disse-me baixinho: — Meu amor, olha-me nos olhos. Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe: — Vai-te embora. Mas ele não foi. Chegou ao pé de mim e agarrou-me as mãos... Eu disse-lhe: — Deixa-me. Mas ele não deixou. Encostou a cara ao meu ouvido. Afastei-me um pouco, fiquei a olhá-lo e disse-lhe: — Não tens vergonha? Nem se moveu. Os seus lábios roçaram a minha face. Estremeci e disse-lhe: — Como te atreves? Mas ele não se envergonhou. Prendeu-me uma flor no cabelo. Eu disse-lhe: — É inútil. Mas ele não fez caso. Tirou-me a grinalda do pescoço e abalou. Continuo a chorar, e pergunto ao meu coração: Porque é que ele não volta? Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" Tradução de Manuel Simões

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