domingo, 29 de agosto de 2010


Feliz Só Será  

Feliz só será
A alma que amar.

'Star alegre
E triste,
Perder-se a pensar,
Desejar
E recear
Suspensa em penar,
Saltar de prazer,
De aflição morrer —
Feliz só será
A alma que amar.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Canções"



sábado, 28 de agosto de 2010

Verão



Não Pode Tirar-me as Esperanças

Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde;
Vem não sei como; e dói não sei porquê.


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"



sexta-feira, 27 de agosto de 2010


Cântico da Esperança
Não peça eu nunca 
para me ver livre de perigos, 
mas coragem para afrontá-los. 

Não queira eu 
que se apaguem as minhas dores, 
mas que saiba dominá-las 
no meu coração. 

Não procure eu amigos 
no campo da batalha da vida, 
mas ter forças dentro de mim. 

Não deseje eu ansiosamente 
ser salvo, 
mas ter esperança 
para conquistar pacientemente 
a minha liberdade. 

Não seja eu tão cobarde, Senhor, 
que deseje a tua misericórdia 
no meu triunfo, 
mas apertar a tua mão 
no meu fracasso! 

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" 




Évora :)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Meu Olhar Azul como o Céu O meu olhar azul como o céu É calmo como a água ao sol. É assim, azul e calmo, Porque não interroga nem se espanta ... Se eu interrogasse e me espantasse Não nasciam flores novas nos prados Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... (Mesmo se nascessem flores novas no prado E se o sol mudasse para mais belo, Eu sentiria menos flores no prado E achava mais feio o sol ... Porque tudo é como é e assim é que é, E eu aceito, e nem agradeço, Para não parecer que penso nisso...) Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII"

Michael Bay Remakes Classic Movies

Quanto Ódio

quanto ódio diz quanto ódio não sabes tens dentro de ti o deferente tapete da palavra a rede bélica os rasgos secundários TUDO engendra articula atavia a sala da tua fala Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Antes o Vôo da Ave Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto, Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. A ave passa e esquece, e assim deve ser. O animal, onde já não está e por isso de nada serve, Mostra que já esteve, o que não serve para nada. A recordação é uma traição à Natureza, Porque a Natureza de ontem não é Natureza. O que foi não é nada, e lembrar é não ver. Passa, ave, passa, e ensina-me a passar! Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII"

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Imagem Minha Ficas a ler comprazida diante das rosas silhueta que vislumbrei compus e reanimei. Tinhas o perfil marcado cruamente pela luz, as mãos claras no colo, os cabelos despojados do brilho das cabeleiras soltas, mas juvenis e sacudidos no início da tarde com alegria. As páginas balouçavam do mesmo modo que as rosas porque ao começar a tarde nos dias de Verão brisas e vapores estendem-se desde o mar até às margens floridas. No teu banco adornado por festões de rosas trepadeiras afastas os olhos do livro não absorta mas para sempre atraída por inúmeras imagens. Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Poemas Revistos"