segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Sonho Amor querido, por nada menos que tu Teria eu interrompido este sonho feliz: Era um tema Para a razão, demasiado forte para fantasia. Portanto, sabiamente, me acordaste; porém O meu sonho não terminou, continuou contigo. És tão verdadeira que bastam os pensamentos de ti Para tornar sonhos realidade, fábulas em história. Vem a meus braços, pois se pensaste ser melhor Que não sonhasse todo o meu sonho, concretizemos o resto. Como o relâmpago, ou a luz da vela, Teus olhos, e não o teu ruído, me acordaram; Porém pensei que eras (Tu que amas a verdade) um Anjo — à primeira vista. Mas quando vi que vias o meu coração E os meus pensamentos, para além da arte do anjo, Como sabias do meu sonho, como sabias quando O excesso de gozo me acordaria, e então vieste, Devo confessar que no mínimo, seria Ultrajante, pensar-te outra coisa que não tu. Vindo e ficando mostrou-me que tu és tu. Mas o levantares-te faz-me duvidar, e temo agora Que tu já não sejas tu. E fraco o amor quando o medo é tão forte como ele; Não é todo espírito puro e corajoso Se mistura tem de medo, vergonha, ou honra. Talvez como os fachos que, já preparados, Os homens acendem e apagam, me trates tu: Vieste para inflamar, partiste para voltar. Então Sonharei esse desejo outra vez, senão desfaleceria. John Donne, in "Poemas Eróticos" Tradução de Helena Barbas

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