terça-feira, 2 de outubro de 2007



A FORÇA QUE IMPELE ATRAVÉS DO VERDE RASTILHO DA FLOR
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A força que impele através do verde rastilho a flor
impele os meus verdes anos; a que aniquila as raízes das árvores
é o que me destrói.
E não tenho voz para dizer à rosa que se inclina
como a minha juventude se curva sob a febre do mesmo inverno.
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A força que impele a água através das pedras
impele o meu rubro sangue; a que seca o impulso das correntes
deixa as minhas como se fossem de cera.
E não tenho voz para que os lábios digam às minhas veias
como a mesma boca suga as nascentes da montanha.
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A mão que faz oscilar a água no pântano
agita ainda mais a areia; a que detém o sopro do venro
levanta as velas do meu sudário.
E não tenho voz para dizer ao homem enforcado
como da minha argila é feito o lodo do carrasco.
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Como sanguessugas, os lábios do tempo unem-se à fonte;
fica o amor intusmescido e goteja, mas o sangue derramado
acalmará as suas feridas.
E não tenho voz para dizer ao dia tempestuoso
como as horas assinalam um céu à volta dos astros.
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E não tenho voz para dizer ao túmulo da amada
como sobre o meu sudário rastejam os mesmos vermes.

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