segunda-feira, 7 de abril de 2008

RUY CINATTI






REGRESSO ETERNO


Altos silêncios da noite e os olhos perdidos,

Submersos na escuridão das árvores

Como na alma o rumor de um regato,

Insistente e melódico,

Serpeando entre pedras o fulgor de uma ideia,

Quase emoção;

E folhas que caem e distraem

O sentido interior

Na natureza calma e definida

Pela vivência dum corpo em cuja essência

A terra inteira vibra

E a noite de estrelas premedita.

A noite! Se fosse noite. . .

Mas os meus passos soam e não param,

Mesmo parados pelo pensamento,

Pelo terror que não acaba e perverte os sentido

A esquina do acaso;

Outros mundos se somem,

Outros no ar luzes reflectem sem origem.

É por eles que os meus passos não param.

E é por eles que o mistério se incendeia.

Tudo é tangível, luminoso e vago

Na orla que se afasta e a ilha dobra

Em balas de precário sonho...

Tudo é possível porque à vida dura

E a noite se desfaz

Em altos silêncios puros.

Mas nada impede o renascer da imagem,

A infância perdida, reavida,

Nuns olhos vagabundos debruçados,

Junto a um regato que sem cessar murmura.

Ruy Cinatti

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