quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Guilhotinas, pelouros e castelos Resvalam longemente em procissão; Volteiam-me crepúsculos amarelos, Mordidos, doentios de roxidão. Batem asas de auréola aos meus ouvidos, Grifam-me sons de cor e de perfumes, Ferem-me os olhos turbilhões de gumes, Descem-me a alma, sangram-me os sentidos. Respiro-me no ar que ao longe vem, Da luz que me ilumina participo; Quero reunir-me, e todo me dissipo --- Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além... Corro em volta de mim sem me encontrar... Tudo oscila e se abate como espuma... Um disco de oiro surge a voltear... Fecho os meus olhos com pavor da bruma... Que droga foi a que me inoculei? Ópio de inferno em vez de paraíso?... Que sortilégio a mim próprio lancei? Como é que em dor genial eu me eternizo? Nem ópio nem morfina. O que me ardeu, Foi álcool mais raro e penetrante: É só de mim que ando delirante --- Manhã tão forte que me anoiteceu. Mário de Sá-Carneiro

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