sexta-feira, 19 de setembro de 2008

NAVIO
Tenho a carne dorida
Do pousar de umas aves
Que não sei de onde são:
Só sei que gostam de vida
Picada em meu coração.
Quando vêm, vêm suaves;
Partindo, tão gordas vão!

Como eu gosto de estar
Aqui na minha janela
A dar miolos às aves!
Ponho-me a olhar para o mar:
—Olha-me um navio sem rumo!
E, de vê-lo, dá-lhe a vela,
Ou sejam meus cílios tristes:
A ave e a nave, em resumo,
Aqui, na minha janela.
Vitorino Nemésio

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