Em pleno azul
Com horror mal disfarçado sincero desgosto (sim!) lágrima azul aflita mão crispada de piedade vêem-me passar cantando calamidades desastres impossíveis de evitar as mães as minhas a tua as que estropiam ternamente os filhos para monótono e prudente avanço da família E quando páro e faço a propaganda dos lugares mais comuns da poesia há um terror quase obsceno nos seus olhos maternais Então prometo congressos em pleno azul Prometo uma solução em pleno azul Prometo não fazer nada em pleno azul sem consultar o «bureau» em pleno azul Visivelmente sossegadas é a hora de não cumprir de recomeçar cantando calamidades desastres ruínas por decifrar * Se eu não estivesse a dormir perguntaria aos poetas A que horas desejam que vos acorde? Vamos decifrar ruínas identificar os mortos dormir com mulheres reais denunciar os traidores e atraiçoar a poesia envenenada nas palavras que respiram ausência podre vamos dizer sem maiúsculas o amor a vida e a morte * E as mães onde estão elas? As mães rezam as mães cosem farrapos de dor as mães gritam choram uivam no espesso rio de um sono já quase só animal
Alexandre O´Neill
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