terça-feira, 4 de maio de 2010

Podemos Crer-nos Livres Aqui, Neera, longe De homens e de cidades, Por ninguém nos tolher O passo, nem vedarem A nossa vista as casas, Podemos crer-nos livres. Bem sei, é flava, que inda Nos tolhe a vida o corpo, E não temos a mão Onde temos a alma; Bem sei que mesmo aqui Se nos gasta esta carne Que os deuses concederam Ao estado antes de Averno. Mas aqui não nos prendem Mais coisas do que a vida, Mãos alheias não tomam Do nosso braço, ou passos Humanos se atravessam Pelo nosso caminho. Não nos sentimos presos Senão com pensarmos nisso, Por isso não pensemos E deixemo-nos crer Na inteira liberdade Que é a ilusão que agora Nos torna iguais dos deuses. Ricardo Reis, in "Odes"

Sem comentários: