segunda-feira, 6 de agosto de 2007




PERFORMANCE



A cabeça atravessa a solidão.

Como um automóvel na estrada de Al'aune, por entre o corpo o cheiro insistente das maças.
Ou antes, como uma mulher que dobra e desdobra um cobertor de plástico, à entrada de uma rua da cidade. Vem da sua boca um múrmurio cifrado que, pouco a pouco se transforma numa dolorosa imprecação e que não pára de crescer, até ao supremo instante da loucura. Então, os meus olhos, desmedidos, fixam as fronteiras do deserto, sabem, tocam, brevemente, a plenitude e o vazio.
Depois, apaziguada, a mulher deita-se no chão e cobre-se com o manto translúcido da viagem.
Manuela Parreira da Silva

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