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Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas nas vidraças;
Haverá um tempo, tempo
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar chá e a torrada.
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Passeiam damas na sala para além e para aqui
.
Haverá por certo um tempos
De pensar se corro tal risco. «Corro tal risco?»
Tempo de virar costas e descer as escadas
Com esta clareira calva no meio do cabelo-
(Hão-de dizer:«Este já tem pouco cabelo!»)
Com a cassaca, colarinho hirto subido até ao queixo,
Gravata distinta e discreta mas ornada de um sóbrio alfinete-
(Hão-de dizer:«Que magro está, nos braços e nas pernas!»)
Vou correr o risco
De perturbar o universo?
Num só minuto há tempo
Para decisões e revisões, a revogar noutro minuto
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