domingo, 13 de setembro de 2009

EROS E PSIQUE Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que que tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado. Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A princesa Adormecida Se espera, dormindo espera. Sonha em morte a sua vida. E orna-lhe a fonte esquecida, verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado Ele dela é ignorado Ela para ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora E falso, ele vem seguro, E, vencendo estrada e muro Chega onde em sono ela mora. E, ainda tonto do que houvera, A cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera, E vê que, ele mesmo era A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

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