quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Não sei para que vos quero
Não sei para que vos quero,
pois me d'olhos não servis,
olhos a que eu tanto quis!


Voltas

Pera ver me fostes dados,
vós só a chorar vos destes;
e, se eu tenho cuidados,
meus olhos, vós mos fizestes.
Desque neles me pusestes,
do descanso me fugis,
olhos a quem eu tanto quis!

Meus olhos, por muitas vias
usais comigo cruezas;
tomais as minhas tristezas
pera vossas alegrias.
Entram noites, entram dias,
olhos, nunca me dormis,
olhos a que eu tanto quis!

Quando vós primeiro vistes,
que não me era bom sabíeis,
mas, por gozar do que víeis,
em meu dano consentistes.
O que então me encobristes
agora mo descobris,
olhos a que eu tanto quis!

Ando-vos a vós buscando
cousas que vos dêm prazer,
e vós quando podeis ver
tristezas me andais tornando.
Agora vou-vos cantando,
vós a mim chorando me is,
olhos a que eu tanto quis!

Cristóvão Falcão

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