sexta-feira, 17 de abril de 2009

Distância Não vás para tão longe! Vem sentar-te Aqui na chaise-longue, ao pé de mim... Tenho o desejo doido de contar-te Estas saudades que não tinham fim. Não vás para tão longe; Quero ver Se ainda sabes olhar-me como d'antes, E se nas tuas mãos acariciantes, Inda existe o perfume de que eu gosto. Não vás para tão longe! Tenho medo Do silêncio pesado d'esta sala... Como soluça o vento no arvoredo! E a tua voz, amor, como se cala! Não vás para tão longe! Antigamente, Era sempre demais o curto espaço Que havia entre nós dois... Agora, um embaraço, Hesitas e depois, Com um gesto de tédio e de cansaço, Achas inconveniente O meu abraço. Não vás para tão longe! Fica. Inda é tão cedo! O vento continua a fustigar Os ramos sofredores do arvoredo, E eu ponho-me a pensar E tenho medo! Não vás para tão longe! Na sombra impenetrada, Como se agita e se debate o vento!... Paira nas velhas ruínas do convento Que além se avista, A alma melancólica d'um monge Que a vida arremessou àquela crista... Céu apagado, negro, pessimista, E tu sempre mais longe!... Fernanda de Castro, in Antemanhã

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