terça-feira, 21 de abril de 2009

Príncipe Príncipe: Era de noite quando eu bati à tua porta e na escuridão da tua casa tu vieste abrir e não me conheceste. Era de noite são mil e umas as noites em que bato à tua porta e tu vens abrir e não me reconheces porque eu jamais bato à tua porta. Contudo quando eu batia à tua porta e tu vieste abrir os teus olhos de repente viram-me pela primeira vez como sempre de cada vez é a primeira a derradeira instância do momento de eu surgir e tu veres-me. Era de noite quando eu bati à tua porta e tu vieste abrir e viste-me como um náufrago sussurrando qualquer coisa que ninguém compreendeu. Mas era de noite e por isso tu soubeste que era eu e vieste abrir-te na escuridão da tua casa. Ah era de noite e de súbito tudo era apenas lábios pálpebras intumescências cobrindo o corpo de flutuantes volteios de palpitações trémulas adejando pelo rosto. Beijava os teus olhos por dentro beijava os teus olhos pensados beijava-te pensando e estendia a mão sobre o meu pensamento corria para ti minha praia jamais alcançada impossibilidade desejada de apenas poder pensar-te. São mil e umas as noites em que não bato à tua porta e vens abrir-me Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"

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