quinta-feira, 16 de abril de 2009

Na Véspera de não Partir Nunca Na véspera de não partir nunca Ao menos não há que arrumar malas Nem que fazer planos em papel, Com acompanhamento involuntário de esquecimentos, Para o partir ainda livre do dia seguinte. Não há que fazer nada Na véspera de não partir nunca. Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego! Grande tranquilidade a que nem sabe encolher ombros Por isto tudo, ter pensado o tudo É o ter chegado deliberadamente a nada. Grande alegria de não ter precisão de ser alegre, Como uma oportunidade virada do avesso. Há quantas vezes vivo A vida vegetativa do pensamento! Todos os dias sine linea Sossego, sim, sossego... Grande tranquilidade... Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas! Que prazer olhar para as malas fitando como para nada! Dormita, alma, dormita! Aproveita, dormita! Dormita! É pouco o tempo que tens! Dormita! É a véspera de não partir nunca! Álvaro de Campos, in Poemas

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