sábado, 31 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Como uma Voz de Fonte que Cessasse
Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vãos olhares
Se admiraram), p’ra além dos meus palmares
De sonho, a voz que do meu tédio nasce
Parou... Apareceu já sem disfarce
De música longínqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce...
A paisagem longínqua só existe
Para haver nela um silêncio em descida
P’ra o mistério, silêncio a que a hora assiste...
E, perto ou longe, grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde há a vida...
E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
[17 - Sê Jovem]
Sê jovem, Jovem, apenas.
Não faças literatura Nem ponhas o melancólico aspecto De quem sabe E se debruça Nos abismos Desta pobre humanidade Tão vil e tão desgraçada!
Sê natural como as rosas Que rebentaram ali nos canteiros do jardim, — E sê jovem!, Mas não queiras ser mais nada Quando estás ao pé de mim.
sábado, 17 de julho de 2010
A Felicidade é um Túnel
o domínio
o erotismo do domínio
do domínio irrisório
mas enorme
submeter
ver tremer
ver o tremor do outro
vencer
o gelo
o desdém
veloz
a felicidade é um túnel
Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"
sexta-feira, 16 de julho de 2010
[Andar? Não me custa nada!...]
Andar? Não me custa nada!...
Mas estes passos que dou
Vão alongando uma estrada
Que nem sequer começou.
Andar na noite?! Que importa?...
Não lenho medo da noite
Nem medo de me cansar;
Mas na estrada em que vou.
Passo sempre a mesma poria...
E começo a acreditar
No mau feitiço da estrada:
Que se ela não começou
Também não foi acabada!
Só sei que, neste destino,
Vou atrás do que não sei...
E já me sinto cansada
Dos passos que nunca dei. Natália Correia
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Cântico da Manhã
Que alvor, que amar, que música, Nos céus, em mim, no ar! A festa da existência Me vem ressuscitar! Nasço a cantar com os pássaros! Surjo a brilhar com a luz! Envolta em rosas cândidas Ledo retomo a cruz!
Fonte de Ser! Espírito! Mistério criador! Eis-me! saí dum túmulo, Como da terra a flor. Eis-me! eu te escuto. Emprega-me. Senhor, que vou fazer? «Ama» bradou a voz íntima, «Amar cifra o dever»
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Moimento
Puseram a bandeira a meia-haste
E decretaram luto na cidade,
Responsos, coroas, círios – quanto baste
Para iludir a eternidade.
Teve o nome nas ruas, em moimentos:
«Nasceu – morreu – tantos de tal – Poeta».
Houve discursos graves, longos, lentos.
- Venham todos os ventos
Do planeta!
Rasguem bandeiras, sequem flores; no céu
Se percam orações, paters e glórias
- Tudo isso é dor que não lhe pertenceu –
Destruam as estátuas e as memórias;
Que os discursos inúteis vão dispersos…
- A homenagem a um Poeta que morreu
É decorar-lhe os versos!
António Manuel Couto Viana
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