quinta-feira, 29 de julho de 2010

Como uma Voz de Fonte que Cessasse Como uma voz de fonte que cessasse (E uns para os outros nossos vãos olhares Se admiraram), p’ra além dos meus palmares De sonho, a voz que do meu tédio nasce Parou... Apareceu já sem disfarce De música longínqua, asas nos ares, O mistério silente como os mares, Quando morreu o vento e a calma pasce... A paisagem longínqua só existe Para haver nela um silêncio em descida P’ra o mistério, silêncio a que a hora assiste... E, perto ou longe, grande lago mudo, O mundo, o informe mundo onde há a vida... E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo... Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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