Nos dias imaculados
Em que ninguém bate à porta,
Naqueles dias lavados
Em que sou anjo e sou morta,
Em que da luz dos desertos
Partem chamadas e gritos,
E à flor dos olhos abertos
Se adormecem infinitos...
Tudo a escorrer frio e ordem,
Horas certas e contadas,
Sem que os soluços me acordem
Mesmo a dar-me chicotadas.
E me rasguem pele e calma,
E me atirem para o fundo
- O fundo da minha alma,
O fundo do Fim do Mundo.
E de rojo, como dantes,
Me larguem pelos caminhos.
E me esmaguem os Gigantes
E me intimidem os ninhos.
E ao curso ingénuo dos rios
Me entreguem como uma folha,
Bem ressequida... e bem morta!
P'ra que ninguém me recolha.
Mudas viagens eu faça
Nas águas que ninguém olha.
Natércia Freire
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Nos dias imaculados
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