sexta-feira, 26 de junho de 2009

As cinco letras em vidro
É um estilete de luz
a imensidade de que és feita
e contorna um azul-sonho-neve
igual aos cabelos que descobri a saírem da tua boca
       - dos teus olhos de imaginação
       - dos teus lábios curvos de aurora.

Saímos
enquanto as pessoas olhavam admiradas o Arco do Triunfo
deixando escorrer dos bolsos fitas e serpentinas
para tudo se passar como no pássaro
para deixar objectivamente escrito
nas margens do rio
        do Mar
        - o continente submerso
        - o navio de todos os amantes
        por onde rola a carruagem em que viajamos
        pintada de Liberdade e de Poesia
        contigo a dormir sobre o meu peito.

             POR ISSO EU SENTI SER FÁCIL O SUICÍDIO
                                                   FÁCIL E POSSÍVEL.

Fixou-se no muro da tua residência
sobre a porta que se abre ao visitante
um símbolo mágico e de cabala
        - a oportunidade do meu regresso
        - a história maravilhosa que te direi na viagem.

Procurei
nas folhas espalhadas pelo nosso leito
a recordação do que há-de vir
        - apenas no esparso
        - no diverso
        - no acto simultâneo de defesa
        - no viajar de aeróstato incógnito de distância
        - na noite mágica

             NA PRIMEIRA GRANDE NOITE MÁGICA QUE NÓS
                  TIVEMOS.

Abriu-se a janela que caminhava sozinha
e saiu um sonho simples de criança:

O METEORO DA TRANSFORMAÇÃO

pousado a um canto o meu Jogo de Cabala

        (um montinho de quadrados,
        de círculos, de triângulos,
        dispostos geometricamente
        sobre um tabuleiro grande)

o meu Tratado de Magia Humana

        (um caminho de ogivas, um
        relógio a dar horas sobre
        um túmulo em pé, os postes
        magnéticos, os cordões da angústia)

FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espon-
            tânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as
            sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias lado a
            lado: -
Ao aparecer a mulher escandalosamente
vestida de vermelho
ele dirige-se para a jovem
e os outros passeiam sobre as rochas
onde fica oculto o corpo do homem que chega continuamente
MUDO APONTA O HORIZONTE.

                                              (In A Intervenção Surrealista)



ANTÓNIO MARIA LISBOA

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