domingo, 4 de outubro de 2009

Distante Melodia Num sonho d'Iris, morto a ouro e brasa, Vem-me lembranças doutro Tempo azul Que me oscilava entre véus de tule - Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa. Então os meus sentidos eram côres, Nasciam num jardim as minhas ansias, Havia na minh'alma Outras distancias - Distancias que o segui-las era flôres... Caía Ouro se pensava Estrelas, O luar batia sobre o meu alhear-me... Noites-lagôas, como éreis belas Sob terraços-liz de recordar-me!... Idade acorde d'Inter sonho e Lua, Onde as horas corriam sempre jade, Onde a neblina era uma saudade, E a luz - anseios de Princesa nua... Balaústres de som, arcos de Amar, Pontes de brilho, ogivas de perfume... Dominio inexprimivel d'Ópio e lume Que nunca mais, em côr, hei de habitar... Tapêtes doutras Persias mais Oriente... Cortinados de Chinas mais marfim... Aureos Templos de ritos de setim... Fontes correndo sombra, mansamente... Zimbórios-panthéons de nostalgias... Catedrais de ser-Eu por sobre o mar... Escadas de honra, escadas só, ao ar... Novas Byzancios-alma, outras Turquias... Lembranças fluidas... cinza de brocado... Irrealidade anil que em mim ondeia... - Ao meu redór eu sou Rei exilado, Vagabundo dum sonho de sereia... Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

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